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Professora usa redes sociais e DNA para descobrir identidade do pai biológico

Fernanda Vieira, 38 anos, tinha apenas o nome Rômulo para fazer a busca; ela descobriu uma nova família, com irmãos, tios e primos


A única pista que Fernanda Cristine Martins dos Anjos Vieira, 38 anos, tinha para descobrir a identidade do próprio pai era um nome: Rômulo. Não tinha sobrenome, indicação de endereço, nada. A busca para incluir o genitor em seus documentos começou em 2018, e a professora da rede pública de ensino do Distrito Federal conseguiu encontrar a família que não conheceu com ajuda das redes sociais e de um exame de DNA.

Fernanda (de vermelho) com os novos irmãos

Fernanda (de vermelho) com os novos irmãos

Moradora de Samambaia, Fernanda conta que é a mais velha de três irmãos e que descobriu que era filha de um pai diferente aos 9 anos, quando teve a oportunidade de colocar o nome do pai de criação em seu registro. Ela não quis que a alteração fosse feita, mas conta que não tinha idade para entender o que estava sendo oferecido, e cresceu com esse espaço em branco na certidão de nascimento.

O pai de criação morreu quando ela tinha 10 anos. Ela conta que, diversas vezes, passou por constrangimentos por ter ficado com um trecho do registro vazio. Tinha que prestar explicações ou acabava apontada por terceiros como “aquela que não tinha pai”, por exemplo. Aos 30 anos, em 2015, quando se tornou mãe de gêmeos, a professora decidiu que precisava mudar essa situação.

Comecei a perceber que quando um homem abandona uma mulher gestante, ele abandona uma geração. Foi quando me veio o desejo de saber quem era meu pai. Meus filhos não conheceriam o avô, os tios e primos?

Poucas informações

Ela procurou a mãe, Neuraci Martins, que lhe deu as únicas informações que tinha: o pai se chamava Rômulo e eles se relacionaram quando moravam no Areal, na Região Administrativa de Arniqueira, em meados de 1984. Ela também lembrou que ele tinha duas amigas, Sueli e Sônia.

Fernanda decidiu começar a procura nas redes sociais e começou pelo Facebook, em uma página dedicada ao Areal. Três anos se passaram sem resposta e, em 2018, ela se deparou com a postagem de uma foto antiga (veja a imagem abaixo) em que a internauta perguntava o nome das pessoas fotografadas. Na legenda estava também a resposta, e um deles se chamava Rômulo.

A professora decidiu conversar com a pessoa que fez a postagem, Silvane Mota, e disse que talvez fosse filha do segundo fotografado da esquerda para a direita. Ela não sabia, mas estava falando com a própria tia. Descobriu, então, que o pai morrera em 2015, no ano em que os gêmeos nasceram, mas que, se a paternidade se comprovasse, ela tinha irmãos e toda uma nova família para conhecer.

Expectativas

Silvane conversou com os filhos de Rômulo, que se dispuseram a fazer o exame de DNA. “Eu pesquisei, mas os valores eram altos e variavam de R$ 4 mil a R$ 9 mil. Há uma diferença entre o exame com o pai vivo e com o pai morto. É outra investigação. E o valor era maior. Parecia que eu tinha achado, mas nunca conseguiria ter certeza”, relatou.

Seis anos de espera

A pergunta feita em 2015 seguia sem resposta. De tempos em tempos, Fernanda escrevia para os possíveis irmãos dizendo que não tinha desistido. Até que ela recebeu uma mensagem no e-mail da escola em que leciona, em Samambaia, falando de testes de DNA gratuitos promovidos pela Subsecretaria de Atividade Psicossocial (Suap) da Defensoria Pública do DF.

Em 3 de dezembro de 2021, seis anos depois de ela receber da mãe o nome de Rômulo, a carreta da Defensoria estacionou em Samambaia. Era a oportunidade. Os filhos de seu possível pai biológico Rômulo também compareceram para doar o material genético.

Eu estava muito nervosa, cheia de emoções que eu desconhecia até então. Minha mão estava gelada. Eu tinha medo do resultado. Sentia que a única coisa que eu tinha era uma história que minha mãe tinha contado. A atendente furou meu dedo três vezes para tirar o sangue, mas não saía. Então, ela foi carinhosa. Me abraçou para me acalmar, esquentou minha mão e finalmente conseguiu tirar uma gota.

O resultado

Em 2 de fevereiro de 2022, Fernanda e a nova irmã, Rebeca Leone Menezes Mota, foram receber o resultado. A pessoa perguntou se eu queria que ele fosse meu pai? Eu disse que sim. Ela respondeu que com 99,99% de certeza ele era meu pai. Eu estava com minha irmã e só conseguia chorar. Descobri que ele era de fato meu pai biológico.

Próximo passo: contar a descoberta para a mãe

A professora descreveu a emoção de saber quem é o próprio pai como uma sensação de completude. Mas ainda faltava alguma coisa. Fernanda tinha escondido a busca da mãe, que tentou desencorajá-la no início. Ela tinha medo de constrangê-la caso descobrisse que Rômulo não era seu pai biológico.

Após a descoberta, Fernanda decidiu telefonar para a mãe e contar a verdade. “Quando saiu positivo eu contei pra ela e isso fez muito bem. Ela também ficou feliz. Acho que tivemos o mesmo sentimento por motivos diferentes. Ela teve muitos momentos de dores. Ficou grávida e sozinha aos 24 anos. Teve que enfrentar muita coisa. Ter essa resposta foi significativo”, explicou a professora.

Fernanda, os dois filhos e o marido já participaram de uma reunião familiar com os novos irmãos no município de Areado, Minas Gerais, e também visitou o túmulo do pai biológico. “Rômulo hoje é meu pai. No meu documento, ainda não saiu o processo de inclusão do nome, mas se alguém me perguntar, eu já posso dizer”, declarou.

A mulher e os novos irmãos seguem se conhecendo e se aproximando com calma. Agora, ela pede para as pessoas que não tem o nome do pai no registro que também façam essa busca. “Recomendo que procurem, que pesquisem. Ainda que as pessoas digam que não vale a pena, que é melhor deixar pra lá, nossa genealogia é muito importante.”

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