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Câncer infantojuvenil: especialistas alertam sobre importância do diagnóstico precoce

Trata-se da primeira causa de óbitos entre 1 e 19 anos. Porém, com o tratamento adequado e o diagnóstico precoce, as chances de cura podem chegar a 80%


A cada 3 minutos uma criança morre vítima do câncer no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No dia 15 de fevereiro ocorre o Dia Mundial de Combate ao Câncer Infantojuvenil, doença que mais mata crianças e adolescentes de 1 a 19 anos no Brasil, respondendo por cerca de 8% das mortes infantis, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Para os especialistas, não há dúvidas: o diagnóstico precoce aumenta a possibilidade de cura e sobrevida dos pacientes. O INCA estima que, no Brasil, o número de casos novos de câncer infantojuvenil, para cada ano do triênio, será de 137,87 novos casos por milhão no sexo masculino e 139,04 por milhão para o sexo feminino.

Segundo a médica oncologista e hematologista, diretora técnica do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB), Isis Magalhães, o câncer infantojuvenil pode ocorrer na criança “independentemente de sua idade, sexo, cor ou etnia, condição nutricional ou socioeconômica”. A especialista ressalta que metade dos casos ocorrem antes dos cinco anos de idade, 25% entre 5 e 10 anos de idade e os outros 25%, na adolescência.

Bruno tem 10 anos e está curado de uma Leucemia Linfóide Aguda. - (crédito: Arisson Tavares (Abrace)/Divulgação)

Este é o caso do Bruno Fonseca, 10 anos, diagnosticado aos 2 anos com Leucemia Mielóide Aguda. A mãe do menino, Eduarda Fonseca, 29, conta que os dois moravam no estado do Maranhão quando o Bruno caiu e bateu a cabeça. Um inchaço persistente no olho do garoto, provocado pela queda, chamou a atenção dos médicos. “Lá (no Maranhão) a gente não estava conseguindo descobrir o que era. Então, viemos para Brasília. Assim que chegamos ele foi encaminhado pro Hospital da Criança. Após investigação minuciosa, descobriram o câncer e ele já iniciou o tratamento”, conta a diarista.

 

“Dois anos depois, em 2016, o câncer voltou. Daí teve que começar tudo de novo. A gente teve que ir pra São Paulo pra ele fazer o transplante de medula. Ele tratou e hoje está bem graças a Deus”, desabafa a mãe de Bruno

 

Eduarda associa a cura do filho ao fato dele ter sido diagnosticado antes da evolução da doença. “A gente descobriu quando estava no início ainda. Foi muito difícil, mas agora ele está bem, está curado, estuda e continua alegre, graças a Deus, ao tratamento e ao transplante de medula”, conta. A oncologista Isis Magalhães, representante do HCB, conta que a leucemia linfóide aguda é o tipo de câncer mais comum nas crianças. No entanto, segundo a médica, com o uso de protocolos de quimioterapia dose e temporalmente intensivos, é possível alcançar taxas significativas de cura, que atualmente chegam a 80%.

“Alguns tipos de leucemias resistentes necessitam desses tratamentos mais recentes como ponte para o transplante de medula óssea. É possível resgatar algumas crianças mesmo em recaídas e com resistência aos tratamentos quimioterápicos”, diz a oncologista, ao reafirmar que a ênfase deve ser dada ao diagnóstico precoce, preciso e ao tratamento adequado.

Por que as crianças têm câncer?

Um artigo publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) informa que, na criança, o câncer acontece de forma diferente do adulto. “Originam-se, predominantemente, de células embrionárias, possuem curto período de latência e, em geral, apresentam crescimento rápido, são mais agressivos e invasivos, porém respondem melhor ao tratamento e possuem, em geral, melhor prognóstico que o câncer do adulto”.

Segundo a associação, a maioria dos cânceres infantis resultam de mudanças no DNA que acontecem no início da vida da criança, às vezes antes do nascimento. “Essas mutações são adquiridas, e estão presentes apenas nas células neoplásicas. Na maioria dos estudos hoje disponíveis não há evidências que suportem papel etiológico maior para os fatores ambientais ou outros fatores exógenos no câncer infantojuvenil”, esclarece a SPB.

Sendo assim, diferentemente do adulto, na criança e adolescente raramente é possível a prevenção primária do câncer, exceto pela vacinação contra hepatite B e contra papilomavírus humano (HPV). No entanto, a SBP também reforça que é fundamental atuar na prevenção secundária, principalmente no diagnóstico precoce da doença.

Importância do diagnóstico precoce

Especialistas afirmam que diagnosticar o câncer precocemente garante menor impacto na saúde da criança e maiores chances de cura e sobrevida. João Nunes, oncologista do Centro de Câncer de Brasília (Cettro), onde está instalada a primeira clínica pediátrica para essa finalidade no Distrito Federal, o Cettro Petit, também ressalta que, atualmente, cerca de 80% das crianças e adolescentes acometidos pelo câncer podem ser curados. “O diferencial, como sempre, é o diagnóstico precoce”.

 

“As metodologias avançaram consideravelmente nos últimos 10 anos. Estamos falando de tratamentos menos agressivos, mais eficazes e bem mais humanizados”, explica João Nunes

 

De acordo com o especialista, os avanços garantiram que mais de 84% das crianças com câncer sobrevivessem cinco ou mais anos. “Esse é um aumento considerável desde meados da década de 1970, quando a taxa era de apenas 58%. Porém, as taxas de sobrevida variam com o tipo de câncer e outros fatores”, estima o médico.

Fique atento aos sinais

O oncologista do Centro de Câncer de Brasília, João Nunes, ressalta que, no Brasil, o câncer já representa a primeira causa de morte (8% do total) por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos. Segundo o médico, alguns sinais podem ser observados por pais e profissionais da saúde. São eles:

Leucemias: pela invasão da medula óssea por células anormais, a criança se torna mais sujeita a infecções, pode ficar pálida, ter sangramentos e sentir dores ósseas;
Retinoblastoma: um sinal importante é o chamado reflexo do olho do gato, embranquecimento da pupila quando exposta à luz. Pode se apresentar, também, por meio de fotofobia (sensibilidade exagerada à luz) ou estrabismo (olhar vesgo). Geralmente acomete crianças antes dos três anos. Atualmente, a pesquisa desse reflexo pode ser feita desde a fase de recém-nascido;
Tumor de Wilms (que afeta os rins) ou neuroblastoma: aumento do volume ou surgimento de massa no abdômen;
Osteossarcoma (tumor no osso em crescimento): tumores sólidos que se manifestam pela formação de massa, visível ou não, e causa dor nos membros;
Tumor de sistema nervoso central: os sintomas são dores de cabeça, vômitos, alterações motoras, alterações de comportamento e paralisia de nervos.

“Criança não inventa sintoma”

A médica Isis Magalhães destaca a importância dos pais e profissionais de saúde, principalmente o pediatra geral, para a descoberta precoce do câncer infantojuvenil. Ela pede para que todos estejam atentos a algumas formas de apresentação da doença na infância e que não mimetizem sintomas de doenças comuns na infância.

“É importante que os pais também estejam alertas para o fato de que a criança não ‘inventa’ sintomas e que, ao sinal de alguma anormalidade, levem seus filhos ao pediatra para avaliação. É igualmente relevante saber que, na maioria das vezes, esses sintomas estão relacionados a doenças comuns na infância, mas o acompanhamento de sintomas que se prolongam além do habitual deve incluir avaliações adicionais do médico especialista”, afirma a médica.

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